Mil dias para salvar o Mar Mediterrâneo

Um é ex-vencedor de regatas oceânicas, o outro é enólogo e o terceiro é um jornalista americano, um cinegrafista renomado no mundo dos esportes e documentários. Aparentemente, nada predestinou Lionel Péan, Jean-François Ott e Tom Woods a se conhecerem. Exceto pela paixão que compartilham pelo mar. E especialmente pelo Mediterrâneo, onde vivem.

Um mar maltratado pelos homens, mas que nossos três amigos decidiram defender. Juntos. Aos 74 anos, Tom Woods, proprietário há quarenta anos do Wiki , um ketch bermudense com mais de cem anos, prepara-se para navegar no Mare Nostrum por 1.000 dias! O objetivo desta viagem de longa distância: dar voz a jovens e crianças dos 24 países que banham o Grande Azul para que possam contar sua história mediterrânea, como a vivenciam, como a veem evoluir e suas soluções para protegê-la.

A palavra é dada aos jovens

"A ideia surgiu enquanto eu estava ancorado em Villefranche-sur-Mer, sob as muralhas da cidadela. Pensando neste mar de plástico, que está se aquecendo e sendo submerso pelo turismo de massa, me perguntei: que tipo de mundo vou deixar para William Thomas, meu filho de 17 anos? Em resposta, criei o projeto Help Save the Med", diz Tom, entusiasmado com a ideia de zarpar para uma jornada de pelo menos 35.000 quilômetros!

Embora a grande partida esteja prevista para meados de setembro e o projeto continue sendo aprimorado até lá, Tom Woods e sua equipe já estão trabalhando arduamente. Um encontro enriquecedor com os alunos da Instituição François-d'Assise-Nicolas-Barré e a seção esportiva do Iate Clube de Mônaco o convenceu de que o futuro do Mediterrâneo está nas mãos dos jovens de suas margens. "Com a condição de que não criemos ecoansiedade neles dizendo-lhes que o mundo está perdido, mas, pelo contrário, que lhes demos voz para que nos digam como melhorar as coisas", insiste Tom.

O retorno à graça da vela

A escolha de Wiki não é insignificante para esta aventura, que pretende ser ética. Com mais de cem anos, o veleiro é, de fato, um belo exemplo de construção naval sustentável e mobilidade suave. Valores compartilhados por Lionel Péan. Enquanto este último competia em veleiros modernos feitos de materiais compósitos, hoje ele navega exclusivamente ao leme do Hermitage , um iate de madeira de 1965. "Sessenta anos após sua construção, 70% do revestimento é original! O veleiro é extremamente durável e, se necessário, poderíamos reciclá-lo completamente", confidencia.

É com grande interesse que Lionel Péan observa o retorno da vela como meio de propulsão no transporte marítimo. "Sou extremamente favorável. Pode ser visto como um nicho, mas o Canopée, um navio equipado com quatro asas verticais que transporta o foguete Ariane 6, proporciona uma economia significativa de combustível." Este é um exemplo, entre outros, de propulsão híbrida que o elegante homem de sessenta anos gostaria de ver desenvolvido. Particularmente em barcos de recreio motorizados, que representam 78% dos barcos de recreio construídos anualmente. "O fato de consumirmos grandes quantidades de hidrocarbonetos para fins de lazer é uma aberração!", afirma Lionel Péan.

Preservação do patrimônio

Sua visão, no entanto, é menos pessimista em relação ao estado dos oceanos. "Navego há mais de sessenta anos e notei que os oceanos estão muito mais limpos hoje do que há trinta anos. Fizemos enormes progressos no tratamento da água, e os navios, sejam militares ou civis, não jogam mais lixo no mar como antes. Mais perto de casa, graças ao Santuário de Pelagos, também vemos muito mais vida marinha: cetáceos, tartarugas, peixes-voadores..."

Foi a biodiversidade que motivou Jean-François Ott a se interessar pelo projeto "Ajude a Salvar o Mediterrâneo". "Para mim, que gerencio as propriedades de Ott, e em particular o Clos Mireille, que se estende até o Mar Mediterrâneo, defender a biodiversidade em todas as suas formas é algo que faz sentido. E, além disso, o fato de o projeto de Tom Woods ser personificado por seu veleiro Wiki me toca profundamente. Estou à frente de três propriedades que foram criadas há 130 anos, então a preservação e a transmissão do patrimônio obviamente me tocam", confidencia o enólogo do Var, que não descarta a ideia de um dia exportar suas garrafas de vinho por... navios cargueiros à vela.