Exclusivo: Iron Dames projetam futuro no WEC, falam sobre mulheres no automobilismo e retorno de Gatting

Em Interlagos, as Iron Dames conquistaram sua melhor posição de classificação na temporada 2025. Com Rahel Frey à frente do Porsche #85, o carro conduzido pela única equipe 100% feminina marcou 1min34s433 e largará da 7ª posição do grid.
Vindo de uma 24 Horas de Le Mans recheada de adversidades, as pilotas Michelle Gatting, Célia Martin e Rahel Frey conversaram com exclusividade com a equipe do Parabólica sobre a recuperação de Gatting, a parceria com a Manthey e a presença feminina no automobilismo. Confira:
Parabólica: Todas nós sabemos o que aconteceu em Le Mans. Então, eu queria saber: como foi o processo de recuperação da sua lesão no pé e como está sendo voltar ao cockpit aqui em São Paulo?
Michelle Gatting: Antes de tudo, foi muito triste perder Le Mans. Era uma corrida que estávamos realmente ansiosas para fazer juntas, especialmente no dia 7 de junho, com a Rahel. Tínhamos metas e objetivos bem claros, mas infelizmente não era para mim este ano. Eu estive lá apoiando as meninas, mesmo que, tenho que admitir, tenha sido muito doloroso sentar numa cadeira e assistir de fora.
O objetivo era claro: voltar ao carro o mais rápido possível porque ainda estamos lutando pelo título no ELMS. Consegui retornar em Imola e agora estou muito feliz de estar de volta aqui em São Paulo. Perder uma etapa do WEC já foi suficiente — não queria perder outra. Então, aqui estou eu, com minhas companheiras de equipe.
Parabólica: O WEC é um campeonato tão competitivo que perder uma corrida pode mudar tudo. Quais são os principais desafios para manter o foco e a performance depois de contratempos como lesões ou resultados difíceis?
Rahel Frey: Nunca desistir. A Michelle foi o melhor exemplo em Le Mans. Tivemos que mudar a formação da equipe no último minuto devido à lesão dela. Procuramos soluções rapidamente. No automobilismo, você precisa ser forte e seguir em frente, apesar dos contratempos. Caso contrário, não consegue ter sucesso. Acho que provamos isso como exemplo e agora estou super feliz de ter a Michelle de volta ao carro.
Célia Martin: Por exemplo, tivemos que trocar nossa formação. Estávamos indo bem e depois tivemos uma situação infeliz com a Rahel. Ficamos muito tristes com isso, mas ainda assim terminamos a corrida. Pelo menos cruzamos a linha de chegada. Isso mostra que ainda podemos fazer algo. Ainda temos ritmo, podemos fazer o mesmo ou até melhor. O foco está aqui, então por que não?
Parabólica: Este ano também marca o retorno das Iron Dames à Porsche e a parceria com a Manthey. O que essa colaboração significa para o projeto e para vocês como pilotos?
Rahel Frey: Significa muito. As Iron Dames colaborarem com a Porsche Motorsport mostra não só o sucesso do projeto em si, mas também os valores compartilhados entre as duas marcas. Ambas querem ser competitivas e apoiar jovens talentos.
A Porsche tem o seu programa júnior, e nós estamos tentando fazer o mesmo com as Iron Dames. Compartilhamos valores comuns e ter uma piloto contratada como a Michelle é a cereja do bolo — mostra o que é possível e o que deveria ser o alvo no futuro. Estamos felizes de estar de volta com a Porsche e a Manthey, que são uma equipe experiente e bem-sucedida.
Parabólica: Falando em jovens talentos, há alguma possibilidade de as Iron Dames expandirem para outras categorias como Fórmula 3, Fórmula 2 ou até mesmo Fórmula 1?
Célia Martin: Esse é o nosso sonho.
Rahel Frey: É uma questão de tempo.
Célia Martin: Esse é o nosso sonho. Acho que é uma questão de tempo, certo? Porque leva tempo para encontrar a pessoa certa com as condições ideais e o treinamento necessário, pois ainda é um desafio físico — mas não só isso. É preciso também ter a mentalidade certa desde o início e a oportunidade de começar no kart, por exemplo. Acho que vocês, meninas, sabem melhor do que eu, porque infelizmente perdi essa etapa na minha carreira. Mas esse é o caminho certo a seguir. Quanto mais cedo você começa, mais chances tem de ser competitivo e chegar onde quer. Encontrar essa pessoa leva tempo, e desenvolvê-la leva ainda mais. Ter nós — Michi, Rahel e, espero, eu mesma — como exemplo pode, em algum momento, levar a isso. Algum dia, haverá uma garotinha com tudo o que precisa para estar na F1. Mas, como a Rahel disse, é uma questão de tempo.
Parabólica: Aqui no Brasil, temos jovens como Rafaela Ferreira na F1 Academy e Aurélia Nobels ganhando destaque, além de Bia Figueiredo como pioneira. Como vocês veem o papel das mulheres brasileiras no automobilismo?
Michelle Gatting: Acho que, como em qualquer outro país, você precisa de um modelo a seguir. Acredito que a maioria delas teve a Bia como um bom exemplo. Vimos que ela construiu uma ótima carreira. Mas, no fim das contas, é muito importante também tentar sair do próprio país, mostrar o nome, mostrar quem você é. A Europa é o lugar para estar como piloto. Todos sabemos disso, porque é onde está o mais alto nível, desde o kart até os carros de Fórmula e além. Então, sempre que meninas jovens têm a oportunidade — claro, primeiro construindo a personalidade e as habilidades no kart no Brasil —, depois precisam fazer a mudança para a Europa, porque é lá que precisam se mostrar. É onde podem surgir as oportunidades. Acho que essas meninas estão fazendo a coisa certa.
Rahel Frey: Concordo com a Michi. Talvez, até seja mais fácil como menina brasileira: vocês têm uma cultura tão forte de automobilismo que, às vezes, na Europa já não sentimos mais tanto isso. Então, como ela disse, acho que elas deveriam usar isso como uma força para ir à Europa e mostrar o potencial da mulher brasileira.
Parabólica: Minha última pergunta é sobre o fim de semana de corrida. Quais são as expectativas de vocês para a prova aqui no Brasil? E como é a relação com os fãs brasileiros?
Michelle Gatting: É lendário.
Rahel Frey: Sim, exatamente. Michi disse tudo. Vocês já tiveram grandes nomes no automobilismo. Todos escreveram história no esporte. Podemos sentir essa história aqui neste lugar. Para nós, é incrível estar aqui. Todas gostamos. Claramente, o gerenciamento de tráfego em Interlagos é desafiador, mas gostamos de desafios. E estamos super, super felizes de ter uma base de fãs tão forte no Brasil. Quando acompanhamos os números nas redes sociais, vemos que o Brasil é um dos países que mais nos acompanha. Isso nos enche de orgulho e, por isso, estamos super felizes de ter uma corrida no Brasil.
As Iron Dames retornam à pista neste domingo (13), às 11h30 (horário de Brasília), para a disputa das 6 Horas de São Paulo do WEC.
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