Colômbia, entre o clichê da mentalidade e a reprovação da vitória (opinião)

Não é fácil identificar o que nos torna tão incapazes de comemorar uma conquista esportiva, como uma medalha de bronze no Mundial Sub-20, por exemplo: somos vencidos por jogadores melhores ou sempre perdemos? Se perdemos, é porque nos falta a "mentalidade de campeão", porque havia convicção e talento, mas faltava inteligência, porque estamos tão acostumados a perder que não sabemos como vencer, porque nos falta um estrangeiro para nos mostrar o caminho dos títulos... porque, como disse El Pibe, "essa merda nunca vai acontecer com a gente?"
No fim das contas, tudo é uma ode ao lugar-comum. Do que estamos falando? Se nossos jogadores trabalham como todo mundo, se o talento é abundante, se nossos treinadores estudam nas mesmas escolas que brasileiros e argentinos, se somos o quarto maior exportador da região, se aprendemos a atuar na elite anos atrás, como diabos seguimos o mesmo caminho que todo mundo sem sermos imbuídos dessa "mentalidade"? É impossível! Temos isso de sobra, e em todas as categorias. O novo normal é que todos temos as mesmas ferramentas, mas os outros vencem e nós não. Por quê? Porque nos falta o mais importante: estrutura.
A insuportável discussão sobre "grandeza"
Colômbia x Argentina Sub-20 Foto: AFP
Se a discussão é sobre o tamanho da nossa grandeza, podemos encerrá-la imediatamente: ela não é pequena nem grande, simplesmente não existe. Um país que participou de seis das 22 Copas do Mundo já realizadas e nunca passou das quartas de final, que chegou a apenas uma final no Campeonato Sub-17 Feminino (há três anos) e que passou 22 anos sem se classificar para pelo menos uma final do Sub-20, não pode reivindicar tal classificação.
Dito isso, chega de ambição de sermos grandes, vamos passar à competitividade. Temos as condições básicas e adicionamos, digamos, ao longo dos últimos 15 anos, a experiência que adquirimos com James, Falcao e outros nos maiores clubes e ligas mais competitivas da Europa.

James Rodríguez Foto: EFE
Cuidado com os parênteses antes de rasgar a roupa! Ninguém diz que o futebol colombiano nasceu com eles, e ninguém esquece Tino no Parma ou Newcastle, Rincón no Real Madrid, ou Willington, nada disso. O fato é que todos esses heróis foram exceções à norma no futebol de elite, e isso mudou muito recentemente; cabe a essas gerações torná-lo um costume.
Agora o que falta é agregar a estrutura que os grandes sempre desfrutaram durante anos, que passa por pilares dos quais falou César Torres: formação financiada pela FCF desde a base e não pelos pais ou clubes, garantia de trazer talentos para a primeira divisão com a certeza de jogar e não ser ofuscado por veteranos entrincheirados ou estrangeiros ruins e caros, apoio ao crescimento esportivo, nutricional e psicossocial, garantias de um desenvolvimento sustentado e sustentável que não ocorre espontaneamente como SEMPRE ocorreu.
Colômbia, a caminho da profissionalização Aqueles que podem ser chamados de grandes são brasileiros, alemães, italianos, argentinos, franceses, uruguaios e ingleses, nessa ordem. Não são muitos. O deles é o programa de doutorado, que nós, se tanto, estamos no ensino médio. Falta-nos apoio gerencial, que muitas vezes é inferior ao desafio e prefere o lucro a assumir sua responsabilidade. "O futebol tem donos", dizem eles. E eles não estão interessados em investir, trabalhar, sair ou ter sucesso.
Resumindo. O que se segue é saber escolher o espelho em que se olhar: não precisamos copiar os péssimos vencedores e perdedores dos argentinos, nem o quão bons eles são em zombar dos outros e o quão péssimos são em lidar com trolls. Basta, como fez o Marrocos, igualá-los em intensidade competitiva, adaptação às circunstâncias e foco, para que o futebol possa fazer justiça. Isso não se chama "mentalidade". Isso é simples profissionalismo.

Maamma, uma figura do Marrocos Foto: AFP
eltiempo